ENTREVISTA COM O NOVO DESENHISTA DO FANTASMA PARA A EDITORA FREW, DA AÚSTRALIA, O BRASILEIRO WENDELL CAVALCANTI
Olá meus amigos, trazemos hoje com exclusividade uma entrevista com o mais novo desenhista do Fantasma, o brasileiros Wendell Cavalcanti, que gentilmente concedeu esta entrevista ao nosso colaborador e reporter do Blog Fantasma Brasil, e do canal Fantasma Brasil TV, o professor Glaucio Cardoso.
Com a palavra o professor Gláucio:
1. Glaucio - Fale-nos um pouco de sua trajetória como
ilustrador. Como começou? Com que idade? Quais artistas te servem de
referência?
Wendell - Desenhar eu desenho desde garoto, assim como todo mundo.
Muitos param de desenhar ainda criança, eu apenas continuei, pois adorava o ato
de riscar o papel e ver algo que estava na minha imaginação surgir ali, na
ponta do lápis. Agora, como ilustrador, comecei por volta de 97/98, mas só a
partir de 2005 de forma profissional e contínua.
Sou leitor voraz de quadrinhos além de desenhista, então a
lista é imensa. Como todos os profissionais eu fui influenciado por muitos
artistas durante todos esses anos. Nós vamos aprendendo um pouco com cada um
nessa caminhada, né? Mas eu poderia dizer os que estão na minha estante (uma
prateleira bem em frente à minha prancheta) e que uso, atualmente, com
frequência pra estudos (de tempos em tempos essa lista muda): Alex Toth, Sean
Gordon Murphy, Pia Guerra, Mozart Couto, Greg Tochinni, Mastantuono , Marco
Mateu-Mestre e outros... Talvez algum dia eu aprenda a desenhar com todos esses
talentos reunidos nessa estante.
Estudo de Wendell mostrando a forte simbologia do Juramento da Caveira
1. Glaucio - E você é também um fã de longa data do Espírito
que Anda, não? Quais seus artistas favoritos que já trabalharam com o
personagem?
Wendell - Sim, sim, sou fã desde garoto. Meu pai que me apresentou ao
Fantasma. E logo de cara gostei do personagem (de Batman também). A mistura de
selva, herói uniformizado e ação me arregalou os olhos. Era o comecinho dos
anos 80, eu me entendendo por gente e ficando interessado em tv e cinema (onde
meu pai também me levava). Foi uma época de descobertas. Os quadrinhos eram uma
viagem bem mais agradável que a tv. Colecionei Fantasma a partir daí.
Quanto aos artistas, não são muitos, mas já vou logo citando
Ray Moore. Apesar de, naquela época, eu nem mesmo saber o que era clima noir,
era isso que me atraía. A ambientação escura, o herói esguio e misterioso...
Desde sempre ele está na minha lista. Sy
Barry, por aquele traço classicão. Gosto muito de Paul Ryan e Graham Nolan
também.
Glaucio - Como surgiu o convite para desenhar o Fantasma
para a Frew?
Wendell - Há um tempo atrás, depois de finalizar minha participação na
série da Image chamada BLACKACRE, continuei trabalhando com autores
independentes (boa parte de meu material é independente) e um roteirista
australiano chamado Tor Dollhouse entrou em contato comigo encomendando algumas
ilustrações e querendo desenvolver uma hq. Com o tempo, mantendo contato
frequente, ficamos amigos. Eu sabia da longevidade do Fantasma na Austrália,
mas eu não conhecia nada do mercado lá. E conversamos bastante sobre isso. Até
que surgiu a ideia de enviarmos um pitch pra editora. Tor escreveu cinco páginas
de roteiro e uma sinopse e eu deveria ter desenhado cinco páginas. Mas eu
estava com um outro trabalho me tomando tempo e ansioso pra enviar o pitch para
a Frew. Acabou que enviamos o roteiro e duas páginas que eu havia feito,
somente.
Passaram-se algumas semanas sem contato deles e um dia Tor foi convidado pra ir até a editora. O
editor, Glenn, havia gostado das duas páginas que eu havia feito e
particularmente se interessou por um dos Fantasmas que desenhei nessas páginas.
Glenn fez uma chamada de vídeo pra mim (eram 6 da manhã aqui) pra dizer que Tor
e eu faríamos parte da equipe de criação. Desde esse dia somos do Team Phantom. Tor está
desenvolvendo as ideias pra um novo roteiro, mas o editor me enviou um outro
roteiro de um roteirista sueco e já comecei a trabalhar.
O Fantasma de Wendell Cavalcanti, que captou muito bem o espírito do personagem
Glaucio - O Fantasma é um dos personagens mais icônicos
dos quadrinhos. Como é para você, enquanto fã e também enquanto profissional,
estar agora trabalhando com o personagem de Lee Falk? O senso de
responsabilidade é grande?
Wendell - Cara, eu leio o roteiro, que está aqui na minha frente e
ainda não acredito. Eu mesmo jamais imaginei que um dia fosse desenhar o
Fantasma. Ainda que quando garoto e boa parte da adolescência eu passasse as
horas de folga desenhando vários Fantasmas no meu caderno de escola, não era
algo que eu pensasse que fosse realizar. Mesmo quando comecei como quadrinista,
ainda assim achava que não fosse ocorrer. Ora, bem sabemos como é a vida de um
profissional de quadrinhos e, na minha visão eu tinha uma estrada muito
loooooonga pra percorrer antes de pensar em um personagem tão icônico.
Sinto a responsabilidade, sim. É grande. Ainda que no Brasil
não haja mais um interesse de se publicar o Fantasma, na Austrália o personagem
tem sua legião de fãs e é publicado há quase setenta anos. Todo artista que
assume um título espera poder fazer um trabalho que agrade aos fãs. Sinto o
frio na barriga, mas aqui estamos. Vou encarar e dar o meu melhor, afinal, há
artistas incríveis que fizeram o trabalho antes de mim e isso intimida.
Rsrsrs... Eu não cheguei ao fim da estrada. Ainda tenho muito o que aprender. E
estou aprendendo na prática, com um personagem que admiro.
Estudo do personagem feito por Wendell
Glaucio - Um fã do Fantasma (Celso Nunes) pediu que lhe
perguntasse se você pensa em colocar marcas “brazucas” em sua arte, como fez o
Eduardo Ferigato que ao trabalhar em The Last Phantom (Dynamite) chegou a
colocar um avião Tucano da Esquadrilha da Fumaça em uma loja de brinquedos
durante a história. Será que poderemos ver algum tipo de homenagem ao Walmir
Amaral, que desenhou o Fantasma para a saudosa RGE?
Para o Celso:
Wendell - Eu costumo fazer brincadeiras com amigos próximos. Inserindo-os
nas histórias como personagens coadjuvantes ou apenas figurantes, colocar algo
de uma hq ou filme que eu goste. Nas páginas que eu enviei como proposta, há
uma citação discreta ao Fantasma da série de 1943, com Tom Tyler, por exemplo –
espero que um dia essas páginas possam ser publicadas. Rs
Eu adquiri há algum tempo, aquela edição da Opera Graphica,
com a biografia do Fantasma e fiquei maravilhado em saber que outros artistas brasileiros, além de Walmir, haviam
trabalhado com o Fantasma. Gutemberg Monteiro, por exemplo. Eu sabia que havia
artistas brasileiros, mas não sabia quem.
Se houver alguma abertura nos roteiros pra que eu possa fazer
algo, sim, farei.
Estudo de outro personagem: Phantom Girl
1. Glaucio - Que tipo de histórias veremos nessa fase da
Frew? Quais suas expectativas para esse trabalho?
1.
Wendell - A Frew quer trazer novos leitores, com histórias novas e um
pouco mais modernas, porém, claro, mantendo a essência do Fantasma.
As expectativas? Gizuiz, as expectativas... Tenho a
expectativa de sentir o frio na barriga e ansiedade pesada. Talvez um pouco de
náusea.
Não queremos
reinventar a roda, fazer um reboot superespetacular ou algo assim. Queremos
contar boas histórias, tentando modernizar sem descaracterizar. Histórias
talvez mais violentas, talvez mais aventurescas, talvez com uma pitada do
desconhecido – que atiçava a imaginação dos fãs do Fantasma antes... Estamos
discutindo ideias e Glenn, o editor, é bastante empolgado com os novos
conceitos.
Há outros projetos sendo cogitados, mas infelizmente nada
posso falar agora.
A equipe: Tor
Dollhouse, o roteirista e eu tentaremos contar histórias empolgantes, que
divirtam, que façam os leitores olharem de novo para o Fantasma e vê-lo como um
personagem relevante.
Outros estudos realizados por Wendell
1. Glaucio - Agradecemos muito por sua atenção e, em nome da
Equipe Fantasma Brasil, te desejamos muito sucesso nessa empreitada. Esse
espaço é livre para que você envie seu recado a todos os fãs do Espírito que
anda.
Wendell - Eu que agradeço a equipe. Obrigado pelas palavras gentis.
Aos fãs, espero que gostem do que vem por aí.
Falo em nome da
(imensa) equipe: Daremos nosso melhor. Obrigado e um grande abraço a todos.
Nossos agradecimentos ao Wendell por conceder esta entrevista, e deixamos os parabéns ao nosso colaborador o professor Glaucio pela magistral condução desta entrevista.